Os alunos das oitavas séries trabalharam, na semana passada, com uma parte do texto sobre "tecnologia", publicado na revista Carta na Escola, de outubro de 2007. Segue o link para quem quiser ler toda a reportagem:
As alunas Camila Schneider e Suellen Andressa, da 8a. série S-V, da Escola Paul Harris escreveram o seguinte comentário:
"O texto é legal e interessante. Fala da invenção de aparelhos úteis e muito usados. A tecnologia podia inventar algo que falta em nossa vida e não existe, como uma prancha que alise e ao mesmo tempo pinte o cabelo. As mulheres iriam adorar."
Com certeza meninas! Faria o maior sucesso! E fica até a sugestão: quem sabe vocês duas não sejam grandes cientistas e levem essa idéia a diante? A profe adorou!
Acabei lembrando de uma crônica do Moacyr Scliar que se encaixa em nosso assunto. Segue abaixo.
Conversa com a cafeteira
No começo foi muito fácil, inclusive porque o anúncio tinha fundamento científico; tanta coisa funciona sob o comando da voz, por que não poderia uma cafeteira fazê-lo? E a verdade é que esteve quase a ponto de consegui-lo: tinha montado todas as peças do invento segundo um esquema minuciosamente planejado e que forçosamente teria de funcionar. Mas não funcionou, e ele, que já tinha falado do invento para todos os amigos e parentes, se viu diante de um dilema: admitir o fracasso ou bolar uma história.
Preferiu bolar uma história: anunciou que tudo tinha dado certo e que a cafeteira funcionava perfeitamente sob o comando de sua voz:
- Eu ordeno: "Ferva!", e ela ferve o café. "Sirva-me!", serve-me. "Mais fraco!", e ela faz o café mais fraco. "mais forte!", faz mais forte. "Mais doce!", ela automaticamente adiciona mais açúcar. E fala, também. Diz: "Às suas ordens, senhor"e outras coisas.
Ninguém duvidava: todos ouviam maravilhados. E sucediam-se os convites para entrevistas em rádios, em jornais, na televisão. A imaginação dele voava cada vez mais alto: anunciou que tinha sido escolhido como o "estudante do século" pela Fundação Motorola e que recebera uma bolsa de estudos para o Japão.
Finalmente. tudo foi descoberto. Ainda tentou escapar ao vexame, contando que a máfia japonesa lhe havia roubado o segredo do invento, mas os jornalistas foram checar a história e verificaram que era mentira.Desesperado, ele não quis mais sair à rua: temia a gozação generalizada. Sugerilham-lhe passar uns tempos numa clínica.
Ele foi. Quando entrou no pequeno aposento que lhe fora destinado, a primeira coisa que viu, sobre a mesa, foi a sua cefeteira. Alguém a tinha colocado ali, mas por quê? Antes que pudesse perguntar, ouviu uma voz:
- Bem-vindo. eu estava à sua espera.
Era a cafeteira.
- Mas então você fala! - disse ele, espantado.
- Claro que falo - retrucou a cafeteira. - Você não me programou para isso? Vamos falar, sim. E falar muito. Precisamos trocar idéias.
Ele pensou em sair correndo, gritando, ela fala, gente, a minha cafeteira fala. Mas conteve-se. Quem acreditaria nele agora? Sentou-se, pois, resignado. E preparou-se para uma longa conversa.
Claro que com nossas meninas não aconteceria o mesmo! Mas vale, sempre, como leitura. E o Moacyr Scliar é um escritor fantástico! Bjos!